- Home › Blog › Artigos mais recentes › Radiocirurgia Funcional
Radiocirurgia Funcional
A radiocirurgia funcional é uma técnica de radioterapia de alta precisão que tem o objetivo de entregar doses bastante altas em localizações específicas no cérebro para realizar o tratamento de diversas doenças não oncológicas.
As principais doenças que podem ser tratadas com a radiocirurgia funcional são a neuralgia do nervo trigêmeo, os distúrbios do movimento (como doença de Parkinson), a epilepsia, as desordens do comportamento, as desordens de humor e algumas situações de dor crônica.
Em linhas gerais, a radioterapia ablativa funcional atua na redução da hiper estimulação nervosa de determinadas partes do cérebro. Por exemplo: na neuralgia do trigêmeo, a irradiação ablativa de um ponto no nervo irá provocar a diminuição dos reflexos dolorosos; em casos de tremores refratários, a irradiação pontual do núcleo ventral intermédio (VIM) – estrutura localizada dentro do tálamo, que fica no centro do cérebro – contralateral ao tremor do paciente (se o tremor é na mão esquerda, o tratamento é feito no VIM direito) irá diminuir a estimulação e a transmissão exagerada de estímulos nervosos nesta via, que irão culminar com a diminuição dos tremores.
O reconhecimento e seleção adequada de cada caso para elegibilidade de tratamento com radioterapia ablativa funcional é feito mediante discussão multidisciplinar dos casos. Quando indicado, o tratamento é realizado de forma ambulatorial (sem necessidade de internação).
A radioterapia ablativa funcional é, portanto, um tratamento não invasivo, em que são usados microfeixes de radiação com alta precisão, que são direcionados para regiões específicas do cérebro. O objetivo é administrar altas doses de radiação nestas regiões, minimizando as doses nas estruturas sadias adjacentes. Para a sua realização, é necessário o planejamento em que é confeccionada uma máscara termoplástica aberta nos olhos e no nariz (Figura 1). Depois dessa etapa, são realizadas uma tomografia e uma ressonância magnética de crânio, para serem utilizadas para se reconhecer a região anatômica que será irradiada. Cerca de 7 dias depois do planejamento, os pacientes realizam o tratamento propriamente dito. Entre a entrada e saída dos pacientes da sala de tratamento não se transcorrem mais do que 30 minutos. O procedimento é indolor e os pacientes recebem alta imediatamente após o tratamento, com as devidas orientações de cuidados pós-tratamento.
A tecnologia de radiocirurgia funcional disponível no Hospital Sírio-Libanês permite o uso do acelerador linear (equipamento já utilizado para radioterapia de enfermidades oncológicas em qualquer parte do corpo). Para tal, foram incorporadas algumas tecnologias como o sistema de monitorização por superfície (SGRT), que mantém a parte aberta da máscara em monitorização com tempo real, visando identificar quaisquer desvios do posicionamento do paciente (Figura 2). A técnica tem precisão de 1/10 de milímetro. Antes do tratamento, o acelerador linear faz uma imagem para checar o posicionamento do paciente, e permite correções também submilimétricas através do uso da mesa robótica do equipamento que permite movimentação em 6 D. Essa estratégia é chamada radioterapia guiada por imagens (IGRT). A combinação do SGRT com o IGRT permite o tratamento dos pacientes SEM o uso de frames (aros metálicos que são literalmente parafusados na cabeça da pessoa e servem para imobilizá-la no equipamento). Ademais, os feixes otimizados do acelerador linear permitem o tratamento com grande agilidade e precisão (Figura 3).
É importante ressaltar que antes do início do programa de radiocirurgia funcional, houve a capacitação do nosso time de especialistas na Universidade do Alabama nos Estados Unidos, parceria essa que criou também a oportunidade de trocas de experiência e desenvolvimento de projetos científicos.
Fonte:
Gustavo Nader Marta
Médico titular do Departamento de Radioterapia do Hospital Sírio-Libanês. Doutorado e Pós-Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Professor da Pós-graduação (mestrado e doutorado) do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês.
Samir Abdalla Hanna
Médico titular do Departamento de Radioterapia do Hospital Sírio-Libanês. Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Professor da Pós-graduação (mestrado e doutorado) do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês.
Figura 1 – Máscara termoplástica utilizada para a realização da radiocirurgia funcional que garante um maior conforto aos pacientes sem a necessidade de parafusar o crânio fixação do paciente. A máscara é aberta para monitorização com tempo real, visando identificar quaisquer desvios do posicionamento dos pacientes.
Figura 2 – Sistema de monitorização por superfície. Seis câmeras monitoram de modo contínuo a superfície do corpo e posicionamento do paciente e o rastreamento da localização intrafração, de modo contínuo e em tempo real.
Figura 3 – Exemplo do planejamento do tratamento com radiocirurgia funcional em um paciente com neuralgia do trigêmeo. Observam-se diversos campos de tratamento que se convergem para uma região no cérebro pré-definida. Com isso, é possível entregar uma dose alta ablativa protegendo as áreas saudáveis adjacentes. Com essa técnica, o tempo de tratamento é de apenas 30 minutos em média.