Transplante Renal

O sonho humano de substituir órgãos danificados por outros sadios vem conhecendo diversas etapas de buscas, achados, insucessos, recomeços, mas nunca de desistências.

O transplante renal é atualmente a melhor forma de tratamento para o paciente com insuficiência renal crônica, tanto do ponto de vista médico, quanto social ou econômico. Ele está indicado quando houver insuficiência renal crônica em fase terminal, estando o doente em diálise ou mesmo em fase pré-dialítica.

Existem, contudo, exceções. Doentes podem ser transplantados quando a creatinina sérica estiver ao redor de 7 mg/dL, o que corresponderia a uma depuração de creatinina ao redor de 10 ml/min. Nestes casos, o transplante é realizado de forma mais precoce com o objetivo de se minimizarem os inconvenientes da insuficiência renal crônica, como no caso das crianças para se evitar o prejuízo do crescimento, alterações ósseas e dificuldades dialíticas ou nos diabéticos para reduzir a incidência das complicações vasculares, cardíacas, oculares e neurológicas.

Fica claro que o fato de um indivíduo ter retirado um de seus rins por qualquer tipo de doença não significa necessidade de diálise ou de um transplante renal. É sabido que um rim ou mesmo parte dele é suficiente para a manutenção da função renal. Poucas são, na atualidade, as contraindicações para o transplante renal. A idade do paciente não constitui mais uma limitação, como ocorria no passado, pois pode se transplantar com sucesso crianças com 2 a 3 anos de idade e casos selecionados de pacientes com idade superior a 70 anos.

Aqueles doentes com alteração renal de forma aguda e transitória devem ser tratados e acompanhados, uma vez que a insuficiência renal pode ser transitória e reversível.

Quem pode doar órgãos?

A doação de um órgão é um ato espontâneo de amor ao próximo e deve ser totalmente desprovida de qualquer forma de interesse. Como já mencionado anteriormente, todo indivíduo sadio tem condições de viver com um único rim sem prejuízo da qualidade de vida, nem necessidade de qualquer tipo de privação.

O doador pode ser um parente ou não, vivo ou em morte cerebral. A vantagem do doador ser parente está na melhor sobrevida do paciente e enxerto, uma vez que existe uma semelhança imunológica ou compatibilidade entre o doador e receptor. Existe ainda o grupo de doador vivo não parente, os cônjuges ou amigos, que apresentam resultados melhores que os obtidos com doador em morte cerebral e comparáveis com os relacionados.

O doador vivo deve ser adulto e ter idade superior a 21 anos, preferencialmente mais de 30 anos. Os possíveis doadores com mais de 70 anos, desde que em excelentes condições de saúde podem ser aceitos. O doador, antes de ser aceito, é submetido a um grande número de exames e a um interrogatório detalhado com a finalidade de se comprovar uma perfeita condição física e emocional para que possa ser aceito.

O doador ideal é o indivíduo com morte encefálica, ou seja, sem qualquer evidência de atividade cerebral e que se encontre com o coração batendo. Desta forma, os órgãos estão sendo perfundidos e mantidos em condições de serem transplantados. O diagnóstico de morte encefálica é estabelecido após exames clínicos, realizados por neurologista, e comprovação laboratorial. Pela legislação brasileira, assim como na maioria dos países do mundo, a vida é definida pela presença de atividade encefálica.

Importância da doação

Na atualidade, quando uma família opta pela doação de órgãos de um ente querido, existe a possibilidade de beneficiar um número expressivo de indivíduos que se encontram privados de uma vida normal. Vários são os órgãos que podem ser doados: coração, fígado, rins, pâncreas e pulmões, assim como ossos, pele e as córneas. Em breve em nosso meio se iniciarão programas de transplante de intestino.

A captação de órgãos e a escolha dos receptores para os diferentes órgãos são dirigidas e orientadas por uma central de distribuição, administrada pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Os candidatos se inscrevem nas várias listas existentes, que são de conhecimento público, e aguardam pela sorte de receber um órgão e ter condições de retomar suas atividades e participar novamente da sociedade.

Para a realização do transplante renal, os rins do doente não precisam ser retirados, exceto em casos especiais. O enxerto renal é colocado no abdômen inferior na altura de uma das cristas ilíacas. Em geral, o paciente permanece hospitalizado entre sete e 14 dias, ficando com uma sonda na bexiga nos primeiros cinco dias.

Tratamento para transplantados

Todo indivíduo submetido a um transplante de um órgão sólido necessita receber de forma continuada drogas imunossupressoras. Esta medicação tem o objetivo de modular a resposta imunológica do receptor contra as proteínas que compõem o órgão transplantado. O organismo cria mecanismos de reconhecimento e destruição das estruturas e proteínas estranhas que entram em nosso organismo. Dessa forma somos protegidos das infecções causadas por bactérias e vírus, por exemplo.

O sistema imunológico identifica as proteínas estranhas que o estão "invadindo" e produz uma resposta, quer seja humoral, pela produção de anticorpos, quer seja pela produção de linfócitos ou outras estruturas celulares que vão destruir o invasor. Os imunossupressores agem modulando a capacidade de identificar estas proteínas estranhas, assim como na produção da resposta humoral ou celular, permitindo que não haja rejeição do órgão transplantado.

O indivíduo transplantado tem uma qualidade de vida muito próxima da normal. Não necessita de nenhuma forma de isolamento ou de qualquer cuidado especial. Por outro lado, necessita de um segmento continuado pelo seu médico com visitas semanais no período inicial do segmento e espaçamento progressivo até realizá-los semestralmente.

Entretanto, pelo uso obrigatório de drogas imunossupressoras o transplantado é mais susceptível a infecções bacterianas e virais, sobretudo no período inicial, pela necessidade de maior dosagem dos imunossupressores.

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