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Amarelo para alem de setembro: sempre é tempo de olhar para a saúde mental
A campanha Setembro Amarelo é fundamental para a conscientização sobre saúde mental e prevenção do suicídio. Mas essa patologia pode surgir em qualquer momento. Conheça os desafios atuais, as estratégias de cuidado contínuo e os recursos oferecidos pelo Hospital Sírio-Libanês para acolher, orientar e tratar com empatia e excelência.
Dr. Djacir Figueirêdo Neto
06/08/2025 · 5 min de leitura
A cada ano, a campanha de prevenção ao suicídio no mês de setembro mobiliza instituições, veículos de imprensa e redes sociais, promovendo reflexões fundamentais sobre saúde mental. É um movimento necessário, que amplia o debate público, sensibiliza diferentes segmentos populacionais e contribui para reduzir o estigma em torno do sofrimento psíquico. Entretanto, como profissionais da saúde, sabemos que os desafios ligados à saúde mental se estendem muito além de um único mês do calendário. O sofrimento emocional pode emergir a qualquer momento; logo, o cuidado não pode ficar restrito a datas simbólicas.
Mais do que conscientizar, precisamos sustentar um olhar contínuo, atento e tecnicamente qualificado ao longo de todo o ano. Isso envolve integrar políticas públicas, práticas institucionais, estratégias de comunicação e avanços científicos em um esforço permanente de valorização da vida.
Contexto e Desafios Atuais
Criada em 2015, a campanha Setembro Amarelo inspirou-se no Yellow Ribbon Program dos Estados Unidos. No Brasil, consolidou-se com apoio do Conselho Federal de Medicina, da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Centro de Valorização da Vida (CVV). Apesar de seu impacto simbólico, campanhas pontuais tendem a perder força sem uma estratégia sustentada ao longo do ano.
A Organização Mundial da Saúde estima mais de 700 mil mortes por suicídio ao ano no mundo. No Brasil, a taxa ajustada pode chegar a 8 por 100 mil habitantes, totalizando aproximadamente 17 mil mortes anuais. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, o suicídio já representa a quarta causa de morte, com crescimento significativo nas últimas décadas. Em comunidades indígenas, as taxas podem ultrapassar 45 por 100 mil — mais de cinco vezes a média nacional. Pessoas LGBTQIA+ também enfrentam maior risco: estudos apontam que mais de 30% já relataram tentativas de suicídio ao longo da vida, principalmente em contextos de rejeição familiar ou discriminação institucional.
A realidade é ainda mais preocupante entre profissionais da saúde, que vivenciam índices elevados de Burnout, depressão e ideação suicida. Um levantamento recente mostrou que até 12% dos médicos brasileiros já pensaram em tirar a própria vida. A pandemia agravou esse cenário, com aumento expressivo de sintomas depressivos, ansiedade e esgotamento emocional. Ao mesmo tempo, o acesso ao cuidado segue desigual: apenas cerca de 60% dos municípios brasileiros contam com CAPS ativos, e muitos serviços operam com equipes reduzidas e instabilidade orçamentária. O estigma, a desinformação e o medo do julgamento ainda afastam muitos do cuidado.
Abordagem integral e cuidado contínuo
A compreensão do sofrimento psíquico exige uma abordagem biopsicossocial. O cuidado efetivo inclui psicoterapia, farmacoterapia, neuromodulação em casos específicos, acolhimento institucional, fortalecimento de vínculos e atuação sobre determinantes sociais da saúde. Protocolos com evidência robusta, como a Terapia Cognitivo-Comportamental para prevenção do suicídio, a Terapia Dialética Comportamental (DBT) e a Terapia Focada na Transferência (TFP) fazem parte do arsenal clínico.
O cuidado não deve se restringir ao consultório. Ambientes de trabalho, escolas, universidades, comunidades e instituições de saúde precisam assumir corresponsabilidade. Isso significa promover programas permanentes de apoio psicológico, formar agentes multiplicadores, acolher profissionais em sofrimento e valorizar a saúde mental como dimensão fundamental da vida cotidiana.
Hospitais como o Sírio-Libanês exercem um papel central na construção de uma cultura de saúde integral. Isso implica acolher não apenas as queixas físicas, mas também os aspectos emocionais que atravessam o adoecimento. A integração entre as equipes, o reconhecimento da dor psíquica como legítima e o fortalecimento dos fluxos de cuidado em saúde mental são medidas que impactam diretamente a qualidade da assistência.
Comunicação, tecnologia e formação A forma como falamos sobre saúde mental importa. A OMS orienta evitar detalhes de métodos em casos de suicídio, não romantizar o ato e sempre indicar recursos de apoio (como o CVV – 188). Equipes de comunicação, especialmente em grandes instituições, devem ter protocolos claros, canais de escuta e preparo para lidar com o tema em redes sociais.
Recursos tecnológicos ampliam acesso e podem ser aliados importantes: teleatendimento em saúde mental, aplicativos de regulação emocional e até sistemas com inteligência artificial para triagem e monitoramento, desde que supervisionados e eticamente conduzidos.
A capacitação contínua de profissionais da saúde, educadores, gestores e lideranças comunitárias também é essencial. Formação em primeiros socorros psicológicos, simulações de manejo de crise e atualização em diretrizes clínicas tornam-se fundamentais para resposta qualificada e tempestiva.
Considerações finais
Setembro é um marco relevante, mas não deve ser o único momento em que voltamos nossos olhos para a saúde mental. Cuidar da mente é cuidar da vida — e esse cuidado precisa ser cultivado todos os dias, com escuta, presença, conhecimento técnico e responsabilidade ética. Que possamos seguir atentos. Porque todo momento é tempo de cuidar — e cada gesto, por menor que pareça, pode fazer diferença na trajetória de alguém.
Cuidar da mente é essencial para viver com equilíbrio. Conte com os especialistas do Sírio-Libanês para sua saúde mental.
As condições psiquiátricas merecem acolhimento, escuta qualificada e uma abordagem personalizada para garantir bem-estar e qualidade de vida.
No Núcleo de Psiquiatria do Hospital Sírio-Libanês, você encontra uma equipe multidisciplinar preparada para atuar com seriedade, empatia e compromisso, unindo conhecimento técnico, ciência atualizada e cuidado integral.